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Educar para a Vida

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Os recursos tecnológicos atuais nos conectam instantaneamente a lugares distantes, inimagináveis há algumas décadas atrás. É possível manter  diálogos simultâneos de voz e vídeo, em tempo real, da sala da sua casa com pessoas de todo o planeta. Chegamos mais perto de todos os seres e lugares, mas estamos nos afastando com a mesma velocidade de nós mesmos.

 A tela plana da TV ou do computador está empobrecendo nossos sentidos. Percebemos o mundo sem profundidade. As relações estão na superfície. Quem dentre nós olha para o céu noturno e o vê em sua profundidade? O sol, uma estrela que partilha o espaço/ tempo de 100 bilhões de outras estrelas de uma galáxia, com o nome leite, que está entre 100 bilhões de outras galáxias e cada uma com 100 bilhões de estrelas. E aqui estamos, nesse planeta, a terceira pedra do Sol, vivenciando um milagre que sequer nos damos conta. Thich Nanh Hanh, um monge vietnamita  diz que o milagre não é andar sobre as águas, milagre é andar sobre a  terra.

Um dia, observando o céu noturno, fui tomada de profunda gratidão. No silêncio dos sentidos, pude ver o céu na sua profundidade. Foi o novo se manifestando pela minha PRESENÇA.

Mas o outro à minha frente, também não revela um milagre? Diante do outro,  o SILÊNCIO. Não o silêncio da indiferença ou apatia, mas o silêncio do vazio em mim que me permitirá acomodar o que o outro me traz. Nas tradições indígenas é dito que as palavras, como os alimentos, têm que ser digeridas, mas digeridas no coração, no espaço do vazio e do não julgamento. O outro não representa uma ameaça, mas a possibilidade de um outro entendimento, de ampliar, com outro modo de ver o mundo, minhas conexões cerebrais. Com a diversidade das experiências vividas se faz mais simples buscar outras saídas e nos livrar dos condicionamentos da mente plana.

Entre duas notas de música, existe uma nota, entre eu e o outro, o vazio e o silêncio. O que há em mim que é meu no Eu? Viver é relacionar-se e relação é reciprocidade.

Recebemos o mundo através dos nossos sentidos e mente e nos condicionamos a dar respostas rápidas e condicionadas para o novo (e tudo é novo!) que se manifesta. Utilizamos o velho ara receber o novo.

Vivemos na era das incertezas e essas incertezas podem conduzir a labirintos de sombras. Mas o que é a sombra senão o produto de um foco de luz? A sombra não é em si a luz, mas aponta para o foco de onde ela emana. Há a necessidade  urgente de aprendermos uma maneira de como nos desarticular dessa prisão automática que nos remete às experiências do passado, às nossas certezas , às formas antigas   para descrever e perceber o presente, uma maneira de percebermos a nós mesmos e a realidade como manifestações da impermanência  no reconhecimento das coisas , do outro e do mundo. Quando, em tempo real, viveremos o presente com PRESENÇA?

Nesse momento, que estamos conectados simultaneamente a tudo e a nada. Somente através de uma educação que desperte os valores inatos ao humano poderemos recuperar o humano do humano. Não essa educação utilitarista, livresca, que enfatiza o cognitivo, que treina nossos jovens para o vestibular. Mas uma educação integral, que foca o ser humano em todas as suas dimensões. Para isso, faz-se necessária uma revisão na proposta de formação profissional em todos os setores da sociedade, no sentido de uma expansão da compreensão da realidade e do desenvolvimento do ser humano nos seus níveis intelectual, afetivo, emocional e espiritual, seu compromisso com a ética e a responsabilidade social e planetária, numa visão de educação integradora e formadora de caráter.

Hoje, com as instituições religiosas em crise ou desvinculadas de uma ação cotidiana, onde o sagrado tem um lugar num espaço específico e não como nas sociedades ditas "primitivas" onde todos os lugares são sagrados, a escola terá que ocupar o lugar  de trazer de volta o sagrado, sem intermediações. Sagrado no real significado: religare. A escola do presente, com seus profissionais bem pagos, valorizados, com   uma visão de mundo e de si mesmo mais integrada e sistêmica intermediará os diálogos inter-religiosos, promoverá situações que  desafiem a convivência com o diferente (unidade na diversidade) e educará as mentes para conviver com as incertezas e adversidades da vida.

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Educação não é somente para adquirir conhecimento.

Educação não é para ganhar a vida.

Educação é para a vida,

uma vida mais significativa,

uma vida que valha a pena ser vivida.

(Sathya Sai Baba)

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